O início
No começo de 1998 foi implantado no bairro onde moro um centro de inclusão digital do governo municipal denominado "telecentro"; nesta época eu possuía um velho 486Dx4 100MHz o qual sempre era utilizado para as mais diversas experiências; comecei a entender o funcionamento do hardware e coisas como: processador, memória, slots, hard disk começaram a fazer algum sentido.
Graças a este pequeno conhecimento em hardware e muita vontade de desbravar cada vez mais esta onda informatizada, consegui trabalhar como voluntário neste telecentro.
A troca de experiência com outras pessoas era fantástica, aprendi muito em pouco tempo, e o mais importante fato ocorreu ainda neste ano; quando a prefeitura que gerenciava este centro resolveu remover o sistema operacional Microsoft Windows e instalar o Sistema Operacional Livre Gnu/Linux.
Quem é este linux?
Quando os técnicos começaram a formatar os equipamentos, eu não conseguia tirar os olhos dos equipamentos; tentei aprender alguma coisa; mas era época onde o conhecimento ainda estava trancado a sete chaves, e os técnicos sentiam-se os supra-sumo da sabedoria; naquele momento eramos seres inferiores tentando aprender algo além da nossa capacidade de compreensão. Hoje quando lembro de como fiquei entusiasmado ao ver o "boot splash" do conectiva 7, chega a ser engraçado; estava acostumado a tela azul do Windows e não tinha a mínima idéia que existia outras opções de sistemas operacionais realmente funcionais.
Depois de toda a implantação, foi nos concedida a oportunidade de ser capacitados a operar este novo sistema, um instrutor da própria conectiva nos treinou; e o mesmo possuía muito entusiasmo ao explicar sobre as leis do software livre, e sobre os benefícios ao utilizarmos este tipo de software.
Acredito que naquele momento foi como "Neo ao escolher a pílula no filme MATRIX"; lembra qual foi a escolhida? enfim, naquele momento comecei a ver o poder dos softwares proprietários, que são muito mais do que códigos escritos e compilados o qual executamos; são verdadeiras filosofias e aprisionamentos culturais que nos levam a seguir uma companhia, abdicando-se do direito de pensar.Até aquele momento, nunca tinha compilado um programa; pois quando utilizamos software proprietário eles já estão prontos para serem utilizados; isto realmente parece ser mais simples e funcional, no entanto, não sabemos o que estes códigos dizem ou fazem.
OpenSource é conhecer a receita do Bolo
Você vai a padaria e se delicia com um "bolo especial" que acabaram de lançar; todos os dias você gasta uma moeda para saborear um pequeno pedaço desta preciosidade.
No entanto, em um belo dia você resolve perguntar ao padeiro como é feito o tal bolo!
Neste ponto, temos dois caminhos :
1º O aprisionamento da informação (Software Proprietário)
2º O aperfeiçoamento da informação (Software Livre)
2º O aperfeiçoamento da informação (Software Livre)
1º - O Padeiro simplesmente não lhe passa a receita do bolo, e você dependerá daquela padaria sempre que quiser deliciar o sabor do tal bolo.
2º - O Padeiro lhe ensina a receita, neste ponto abre-se mais dois caminhos:
A) Você chega na sua casa e descobre que não sabe fazer bolo, no entanto, você pode pagar a alguém para que faça-o para você seguindo os passos da receita, e até modificando para o seu gosto, acrescentando novos ingredientes, e removendo alguns.
B) Você tenta fazer o bolo colocando alguns ingredientes a mais do que da receita original, e descobre que o sabor do bolo ficou ainda melhor; você retorna a padaria e leva sua nova receita.
Neste momento, já existem "dois tipos diferentes de bolo".
Usando esta analogia fica fácil entender que mesmo ao utilizarmos software livre, podemos ganhar dinheiro com ele (veja caso A); a pessoa recebeu para desenvolver um bolo com a receita a mão, o que facilita no tempo e no dinheiro de pesquisa.
Sendo assim, software opensource além de conseguir um preço menor do que o da concorrência proprietária, possui um principio de filosofia simples e comunitário:
"Eu lhe ajudo, você me ajuda"
Queimei meu Hard Disk?
Voltando ao treinamento; aprendemos a operar o conectiva 7, mas infelizmente não tivemos a aula que eu mais esperava (Instalar o sistema).
O Instrutor deu a cada aluno um CD com este sistema, e ao chegar em casa, não consegui dormir sem antes tentar instalar esta belezinha no computador da família.
Depois de tentar particionar o disco, meu computador não inicializava mais; e o fdisk do disco de boot do windows 98 não reconhecia mais as partições; fiquei em desespero.
O computador ainda estava na garantia, e ao levarmos ele para o concerto, descobri que tinha "queimado o HD":-) claro que hoje acho graça disto tudo, e tenho certeza que a única coisa que ocorreu foi: O sistema foi formatado em ext2, e o fdisk não encontrou as partições.
Como toda "boa" assistência técnica autorizada, trocar peça é melhor do que checar a peça, então, ficou como HD queimado.
Não Desistir é minha filosofia
Se neste ponto eu tivesse desistido, até hoje, estaria falando mal do pinguim; aprisionado ainda no mundo inreal; mas eu não sou do tipo que desiste das coisas, e semanas depois o sistema conectiva linux 7 já bootava no meu equipamento.
De Voluntário a Supervisor
Não demorou muito para que as pessoas do telecentro soubessem do meu sucesso em "instalar o linux"; fui convidado a ensinar os mais inesperientes nesta tarefa; e em menos de três meses já era supervisor deste telecentro.
Claro que não fiquei limitado a conhecer a instalação do sistema, mas sim, em entender as filosofias opensource que envolvem o linux; seu sistema de instalação de pacotes, seus servidores, entre outras ferramentas.
Hoje sou Supervisor Regional responsável por 16 unidades de telecentro; desenvolvedor de diversos e-books, tutoriais e apostilas voltadas ao linux; além de ser palestrante sobre opensource e instrutor de certificação LPI.
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